Muitos parceiros deste botequim entendem que com o locaute na NBA e o provável cancelamento de toda a temporada é chegado o momento de o nosso basquete se aproveitar.
Não é bem assim; gostaria que fosse, mas não é bem assim.
A maioria dos torcedores que vibra com a NBA entende que NBA e o basquete são coisas diferentes. Faço parte desse time.
Para mim, NBA é algo que transcendeu o basquete. Quando a gente vê uma partida da NBA, sabe que é da NBA. Se a gente, ao zapear pelos canais a cabo se depara com um jogo que não é da NBA, não consegue identificar logo de cara. Pode ser Euroliga, Espanhol, NBB, universitário norte-americano, qualquer coisa, mas não é a NBA.
Quando digo isso, não me refiro apenas ao jogo. Refiro-me também à embalagem.
Se formos nos ater ao jogo, a NBA é um jogo dinâmico, de transição. É na NBA se vê o tal do “isolation game”, ou seja, o ápice do espetáculo, quando o craque, o gênio, vai enfrentar o pobre do marcador e vai colocá-lo no bolso, finalizando a jogada em grande estilo.
Se formos nos ater à embalagem, aí é covardia. Os ginásios, as quadras, os uniformes, os jogadores, a bola, o telão central, as placas de publicidade em torno da quadra que ficam mudando a cada dois, três minutos, o banco de reservas que fica posicionado em frente às câmeras de televisão, de modo que os treinadores não “sujam” a quadra, pois estão sempre projetados para fora dela, as “cheerleaders”. Enfim, como disse, é covardia (na foto, Staples Centre de Los Angeles).
O basquete do resto do mundo não tem nada disso. O basquete no resto do mundo é tático, amarrado, feio de se ver, especialmente na Europa. Não à toa, o San Antonio Spurs, o mais europeu dos times da NBA, é também o mais detestado. A maioria dos parceiros deste botequim já manifestou isso. Quando a TV anuncia que vai mostrar um jogo ao vivo do SAS, muitos torcem o nariz, pois é um time que não encanta.
Se na NBA o jogo é dos jogadores, na Europa é mais dos treinadores (como no universitário norte-americano). Gosto mais de ver o show dos atletas com suas jogadas mirabolantes do que o show dos treinadores e suas pranchetas.
Aqui no Brasil, que jogo praticamos? Aqui no Brasil o jogo carece de uma identidade. O que somos realmente?
Somos, talvez, um híbrido do que se pratica nos EUA e na Europa. Mas isso não quer dizer que aqui se pratica um jogo diferente e por isso mesmo atraente.
Nossa falta de identidade gera um jogo às vezes difícil de assistir, pois, muitas vezes, torna-se uma pelada. Jogadores alucinados em quadra, arremessando sem parar atrás da linha dos três pontos, arremessos imprecisos, especialmente os “mid-range jumpers”, lances livres que teimam em não cair. Isso sem falar nas defesas capengas.
Além disso, no resto do planeta, incluindo o Brasil, a embalagem dos jogos deixa muito a desejar. E olha que a Europa poderia apresentar algo melhor. Dinheiro para isso há, não como na NBA, mas há. Aqui temos de enfrentar a dura realidade da ditadura do futebol, que não deixa nem migalha para as demais modalidades esportivas.
Ao mesmo tempo, parece-me que falta também imaginação aos europeus e brasileiros. Alguém de visão que comande o departamento de marketing de modo a deixar os campeonatos mais atraentes.
Os ginásios na Europa precisam de um “banho de loja”. São como seres molambentos que não encantam ninguém. O piso é um horror, todo poluído; dentro e fora das linhas de jogo. As tabelas estão infestadas de propagandas, parecendo mulher que vai para a rua cheia de bóbis na cabeça (na foto, ginásio do Real Madrid).
Isso sem falar nos uniformes dos times, que são feios por natureza e que ficam ainda mais feios por conta do exagero de publicidade.
Aqui no Brasil o cenário não é muito diferente. Mas a diferença nos coloca para baixo e não para cima.
E a bola? Agora ficou colorida; como disse, parece bola de foca.
Por tudo isso, agora falando apenas do Brasil, se a gente quer tirar proveito do provável cancelamento da NBA, há que se investir. Contar que os torcedores ficarão carentes e, por isso, vão migrar para o NBB, a meu ver, parece-me ingenuidade. Não creio que isso ocorrerá.
É certo que falta dinheiro, como já disse. O Vitória, por exemplo, acabou de pedir afastamento do NBB. A tabela estava pronta e tudo o mais. Mas os capixabas não aguentaram o tranco. Uma pena.
É certo que falta dinheiro, mas, como disse anteriormente, nessas horas que se vê quem é competente. Agora é que o departamento de marketing da liga tem que trabalhar dobrado e mostrar criatividade.
A brecha parece estar surgindo. Se vamos aproveitá-la eu não sei, mas se alguém insistir para eu responder, eu digo: não, não vamos aproveitá-la, pois não vejo ninguém mover nem uma palha sequer para mudar o status quo, que, como vimos, não é nada bom.
Gostaria de ter escrito algo diferente pra vocês, mas, infelizmente, não tem como.